terça-feira, 25 de maio de 2010

2+2=5

"As respeitáveis formigas começaram com o formigueiro e acabarão, pelos vistos, com o formigueiro, o que só honra a sua preseverança e positividade. Mas o homem é uma criatura leviana e pouco escrupulosa e, talvez, à semelhança do xadrezista, apenas goste do processo de ir para determinado objectivo e não do objectivo em si. E quem não sabe se, talvez, todo o objectivo a que a humanidade aspira na terra consista exclusivamente nesta ininterrupção do processo de ir para um objectivo, por outras palavras, na própria vida e não no objectivo em si, que sem dúvida outra coisa não é do que o dois mais dois serem quatro, ou seja, uma fórmula, mas dois mais dois são quatro não é vida, meus senhores, e sim o início da morte. (...) Pois é, o homem não faz outra coisa senão procurar esses dois mais dois são quatro, atravessa oceanos, sacrifica a vida nessa procura, mas, na realidade, tem medo de encontrá-lo, juro. Porque sente que, quando o encontrar, não haverá mais nada para procurar. (...) Numa palavra, o homem é feito de maneira cómica; em tudo isto haverá, pelos vistos, uma espécie de trocadilho. Mas o dois mais dois são quatro é uma coisa insuportável. O dois mais dois são quatro é, na minha opinião, um atrevimento. O dois mais dois são quatro é arrogante, espeta-se-nos no caminho com as mãos nas ancas e cospe. Estou de acordo que o dois mais dois são quatro é uma coisa excelente; mas, já que estamos na louvaminha, então o dois mais dois são cinco também é, às vezes, uma coisinha simpática. "

Dostoiévski, Cadernos do Subterrâneo

Sem comentários:

Enviar um comentário